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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

RECANTOS DA NOSSA TERRA

As Alminhas
São modestos monumentos erigidos às almas, uma forma de as recordar, as venerar, as perpetuar nas encruzilhadas, nas estradas sombrias tristes como a morte.
No Vimieiro havia umas alminhas de pedra esbatida pelo tempo, cinzelada toscamente, silenciada pelo passado, escondida entre silvas, e por ninguém era notada. Hoje está embutida num altar à beira do caminho onde piedosamente lhe colocam flores e velas. è o largo das almas em sua homenagem.
António Nobre o poeta do "Só" fala-nos das alminhas numa quadra muito linda.
"Ora havia lá e ainda há umas alminhas
Com um painel antigo sobre o oratório
E têm esta legenda: Ò vós que ides passando,
não esqueceis a nós neste lume penando."


De um anónimo são estes versos:
"As almas do purgatório
Já não nos pedem riqueza
Só pedem as migalhinhas
Que caiem da vossa mesa."
Outrora os homens ao passarem pelas alminhas tiravam o chapéu e as mulheres ajoelhavam perante elas.
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Este Chafariz foi mandado construir pela Junta de Freguesia do Vimieiro em 1939, era presidente da Junta o Sr. Ernesto Moura.
Foi inaugurado em 1 de Dezembro do mesmo ano, em que se comemorava a revolução de 1640 - Nesse dia o Vimieiro vestiu-se de festa e na Escola Cantina Salazar foi oferecido um almoço a quarenta crianças, um presente do Sr. José Rufino o grande benemérito inspirador da cantina, que das terras do Brasil presenteava as crianças com compotas da goiaba, O professor Sobral enaltecia ao longo do discurso os feitos da revolução de 1640.

O fontanário foi recuperado em 2009.
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A fonte da água do empréstimo foi restaurada
A fonte da água do empréstimo há muito que se tinha calado. O seu aspecto denotava um total abandono, invadido por ervas daninhas e silvas. Já vem de muito longe a velha fonte, dizem que tem a idade dos caminhos-de-ferro da Beira Alta.
Servia as populações do Bairro Novo da Estação. A água corria sempre, sem cessar, e vinha da barreira de uma nascente da quinta das Ladeiras. Atravessava a linha dos caminhos-de-ferro e quando da reabilitação dos mesmos os seus canos foram cortados.
Brotavam águas límpidas, puras e de grande frescura, que as criadas da Tia Ambrósia, de cântaro à cabeça, usavam na sua famosa pensão. Como nota de curiosidade, de um velho jornal de 1908, um viajante que se intitulava de cavador, dirigia uma mensagem aos habitantes do Vimieiro e da estação. Diz ele que desde 1896 tinha a felicidade de viajar junto à janela do vagon e que espreitava a vista pelos campos, para si desconhecidos. Reparou que na barreira perto da estação corria água que lhe parecia ser sulfurosa, pela cor dos limos. mais à frente diz: "Ficou-me de tal forma radicada no espírito esta convicção que me obriga a olhar aquele lugar todas as vezes que lá passo. Mandem-me analisar, ela deve ter algum valor medicinal. Era agora uma mina para a estação, uma estância aquista. Mão julgueis que invento. Juro por tudo quanto há de sagrado que vi e convenci-me."
Mais de cem anos tem esta notícia. Junto desta nascente, numa nesga estreita de terra, e junto à linha florescida a horta de senhor chefe da estação. O meu pai nuns versos cheios de graça dedica-lhe esta poesia:

Fumo do meu passado
Fazia um sol brutal
Quando eu aborrecido
fui até ao Ladeiral
Chateado entristecido
Com as leis da minha sorte
Mas depois mais animado
Nestes caminhos sem norte
Fiquei pasmo, apalermado
Com as letras garrafais
Daquele letreiro inocente
Onde eu a rir e aos ais
Li um pouco paciente
E já um tanto sereno
Este aviso dum prudente
"Quidado" há veneno.
"Quidado"? Mas que heresia
isto é pior que quimbundo
E é o aviso furibundo
Com língua de magarefe
O qual a gente pasma
E que se ergue qual fantasma
Na horta do senhor chefe.

O Chafariz foi restaurado pela Junta de Freguesia do Vimieiro. Voltar a ter vida, a brotar água, a ter dignidade. Não é a mesma água de outrora, porque essa perdeu-se para sempre.
Elsa Silvestre do Amaral - Vimieiro
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O Cantinho da Saudade

O Cantinho da Saudade é um recanto da nossa terra, onde vieram ao mundo muitas crianças que feitas homens e mulheres foram úteis à sociedade e a si próprias, pela educação que os seus pais lhes deram.
No Cantinho da Saudade há alecrim, hortencias e salsa. A roseira vermelha em Maio enche-se de rosas.
Vão longe os anos dos risos das crianças, da música dos bandolins que tocavam as melodias da moda, das galinhas com toda a liberdade a esgravatar a terra, do porco a grunhir na loja, as vivências do sitio.

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VIMIEIRO - SUAS HISTÓRIAS E VIVÊNCIAS

Quem seria a pobre velha que se chamava Jacinta Pena?
Foi sem dúvida uma habitante do Vimieiro, que os anos enterraram no esquecimento. A velha Jacinta Pena, lá nos anos de 1915, vendia na estação dos Caminhos de Ferro, tabacos, pirolitos, águas das nossas fontes, frutos dos nossos pomares. Fez o último comboio e meteu-se a caminho, de trémulos passos, na estrada enlameada, numa noite de bréu. Guiava-a uma lanterna e dezoito tostões no bolso. Nessa noite de bréu, teve um mau encontro, em plena estrada um pouco acima as casas que marginam a via pública quase em frente do caminho que dá ingresso para o Vimieiro. Aí foi cercada por ladrões que lhe roubaram o produto do dia de trabalho que foram os dezoito tostões e a lanterna que a alumiava.
Por aqui passou um ser impar de bondade, o espanhol D. Salvador Cabanes Torres, que foi um mártir. Católico fervoso, D. Salvador foi gerente da fábrica de Serração C. Dupin e Companhia, aqui no Bairro da Estação. Era casado com D. Pura Burguete Cabanes Torres, uma senhora que na capelinha do Sr. da Agonia rezava o terço em espanhol com a comunidade do Vimieiro. Os seus três filhos chamavam-se: Jesus, Maria e José.
Este senhor ajudou o meu avô materno, Salvador Rodrigues de Sá, a morrer ainda na flor de idade, quando a vida se lhe apresentava risonha e repleta de felicidade. Apertava a mão do meu avô e na outra segurava o crucifixo dando-lhe força e alento na sua passagem da vida para a morte e dizia: "força xará".
Nicanor, um filho desta terra, e filho também da costureira Srª. Maria dos Anjos chamou-lhe "um simpático cavalheiro que entre nós conta com as melhores simpatias" (27 de Outubro se 1927).
Na sexta-feira, dia 15 de Janeiro de 1929, partiu no comboio correio da manhã, perante uma sentida e derradeira despedida, dos amigos.
De Valência, Espanha, terra da sua naturalidade, mandou 14 lindas estampas alusivas à Vida de Cristo, representando a Via Sacra e medindo cada uma delas, impressas na Alemanha, 0.65*0.39, que ofertou à Igreja Matriz de Santa Comba Dão. Para a Banda Santacombadense enviou as músicas, "La Fiesta Valenciana", "El Falero Serrano", a "Cancion del Soldado" bem como muitos livros para a biblioteca Alves Mateus.
Este senhor D. Salvador e seu filho, D. José Cabanas Torres, foram mártires da Guerra Civil espanhola, pois foram fuzilados em Valência quando os marxistas desencadearam uma luta violenta contra a Igreja e os seus filhos. (1936-1939).
D. Salvador e o seu filho, não se deixaram intimidar pelas ofensas, os insultos, a morte e percorreram o caminho da cruz, para exprimir o maior testemunho aceitando voluntariamente o martírio. Aqui, não se esqueceram das suas mortes e mandaram-lhe rezar uma piedosa missa. A casa onde viveram e que foi feita especialmente para esta família, lá esta na rampa da padaria olhando o casario de Santa Comba, os caminhos de ferro, a paisagem verdejante e as janelas onde D. Pura chamava os seus filhos: Jesus,... Maria ... José ...
Vimieiro
Elsa Silvestre do Amaral

Benemérito-Escola Cantina Salazar 1946

Benemérito-Escola Cantina Salazar 1946

Fontanário do Vimieiro 1950

Fontanário do Vimieiro 1950

Bairro da Estação, 28 de Agosto de 1927

Bairro da Estação, 28 de Agosto de 1927

Santa Cruz 1956

Santa Cruz 1956